quarta-feira, março 31, 2021

Um Militante da LIBERDADE

 Amândio Silva

Amândio Silva deixou-nos no dia 31 de Janeiro deste ano, tinha 82 anos.

Combateu toda a vida pela liberdade, desde a revolta da Sé, em 1959, com vista a derrubar a ditadura de Salazar, o que o levou à prisão durante um ano. Pediu asilo à embaixada do Brasil. Esteve na tomada do avião da TAP, (operação VAGÔ) em 10 de novembro de 1961, entre Casablanca e Lisboa, que lançou cem mil folhetos sobre a capital portuguesa, denunciando o regime fascista e apelando à luta contra ele.

Depois do 25 de Abril de 1974, Amândio foi o mentor, com João Tito de Morais, da ocupação do consulado português no Rio de Janeiro para que fossem concedidos passaportes aos portugueses ali exilados, o que rapidamente foi concedido.

Amândio foi chefe de gabinete do secretário de Estado da Emigração.

Na década de 80 do século passado, Amândio foi nomeado conselheiro social da Embaixada de Portugal em Brasília. De destacar os espetáculos que por sua iniciativa foram realizados nas festas anuais do 25 de Abril, levando artistas portugueses e brasileiros a atuarem. Criou ainda a Fundação Luso-Brasileira para o Desenvolvimento do Mundo de Língua Portuguesa, em Lisboa, da qual foi secretário-geral.

Por fim, criou a Associação Mares Navegados, com o fim de estreitar as relações entre Portugal e Brasil e ainda os outros países de língua oficial portuguesa. (De notar que ele rompeu com a CPLP quando a Guiné-Equatorial foi admitida.)

Organizou e prefaciou, em 2007, o livro “Agostinho da Silva no Brasil”, com o antropólogo Pedro Agostinho.

Foi um dos grandes impulsionadores do Movimento “Liberdade e Pensamento Crítico”, apoiado pela Câmara Municipal de Lisboa e do Liceu Camões, juntamente com Camilo Mortágua.

Apoiou as candidaturas de Sampaio da Nóvoa e Ana Gomes à Presidência da República.

Com Amândio fomos à ilha da Réunion, numa ação da Universidade Rural da Europa. Durante essa semana, foi possível admirar a capacidade de organização de Amândio. Sem fazer ruídos, Amândio lançava o olhar sobre toda a comunidade e preenchia as lacunas, mostrando toda a sua capacidade de gestor e animador cultural. Nunca vimos igual nem semelhante.

Sentimos muito a sua perda.

quarta-feira, junho 03, 2020

Ciclos Agostinianos - Açores


  MATINAS                                                                       por  Maria Eduarda Rosa   

Só haverá paz para a consciência humana quando não existir distinção alguma entre o “eu” e o “outro. Agostinho da Silva



Desço as escadas
Vigorosa como uma guerreira
Em marcha,
Pé esquerdo, mão direita,
Pé direito, mão esquerda,
Um, dois, um, dois.
Percorro os dezasseis degraus
E, mantendo o mesmo ritmo,
Depressa passo o corredor
E chego à cozinha.

Em frente, o olhar abarca a azinheira e o limoeiro
E para além do verde portão e da rua de alcatrão,
Um campo a abarrotar de chagas –capuccinas ou papagaias-
Vermelhas e amarelas
E ainda algumas delas
Destas cores mescladas.

Em cima do portão, há alguns pássaros a espreitar
E nas árvores há outros ainda a balouçar.
Há uma secreta, misteriosa e indizível corrente entre nós
De tal modo que eu de mim me esqueço
E vou a correr dar-lhes alimento.

O pátio vai-se enchendo de melros, azorinos,
Toutinegras e tentilhões
- Estes em cantos agudos campeões -,
Piscos e pardais,
E até uma lambandeirinha
Com o seu vestido tricolor.

Satisfeitos com o repasto, dão às asas
E é ouvi-los nas árvores próximas
Com seus melodiosos gorjeios aflautados
E trinados de arrepiar os mais sensíveis corações.
Tem razão o poeta Saint-John Perse:
“Les oiseaux gardent parmi nous
Quelque chose du chant de la création.”

Que belo concerto primaveril!
Regresso à cozinha
Em passos de chamarrita
Sîmorgh de mim mesma.

As gatas, porém, vão chegando
Enquanto os pássaros iniciam um canto de susto.
A primeira gata tem pelo branco, amarelo e preto.
A seguir, chega a gata ibérica de pelo acinzentado.
Por fim, vem a gata branca
Que me fala num miar indecifrável.
As gatas comem à vez.

Regresso à cozinha.
Será que agora
Já posso cuidar de mim?                                                        
Varadouro, Açores, 2020. 05. 03

domingo, maio 31, 2020

CICLO AGOSTINIANO - AÇORES

2020 05 31 - Dia de Pentecostes

MÃE TERRA *

Senhora minha Mãe Terra,
Boa Mãe que me geraste e me deste os seios,
Homem pleno, eu te estou amando, teu corpo molhado,
Teus cabelos, teu ventre fecundo e ternamente virgem,
Tu me pariste por uma noite sem lua, há quantas noites
Imensas?,
Tu me deste os grandes seios, eu os dei em sangue,
Noites e noites vieram, eu mamando, eu crescendo, crescendo,
De berros acordei os astros, meus irmãos bichos
Pararam na floresta, sentiram minha grandeza,
Encheram teus seios, Mãe, encheram a noite,
Minhas artérias se encheram, minhas veias, meu sexo,
A floresta chamou as ventanias e gemeu
Com as alcateias um canto de ameaças,
Vieram raios e trovões com assombros e medos,
Tu me escondeste nas dobras do teu ventre,
No entanto a alvorada vinha do outro lado do mundo,
Era o Pai Sol que me quis saudar, meu claro, rubro Pai,
Eu parei no meio da planície sem limites, homem pleno,
Há um rumor de seivas, estalar de folhas e ramos,
Vermes e pássaros, latejar da minha carne,
É quase dia agora, aí vem meu Pai galgando as montanhas,
Dia de glória para nós, Senhora minha Mãe Terra.

* de Papiniano Carlos (Lourenço Marques/ Maputo, 1918)


terça-feira, abril 21, 2020

CICLOS AGOSTINIANOS AÇORES

VI CICLO AGOSTINIANO – AÇORES
««««« BIOESFERA »»»»»
27, 28 e 29 de Março de 2008

De reconhecido Interesse Público por despacho de 21.01.2008 do Senhor Director Regional da Cultura

Local: Ilha Graciosa
Comissária: Maria Eduarda Rosa
Organização: Município de Santa Cruz da Graciosa; FaiAlentejo; Associação Agostinho da Silva

27.MAR.08 – (QUINTA-FEIRA)
14:00 – Recepção aos participantes e convidados.
14:30 – Visita guiada à Ilha Graciosa, a lugares de referência ambiental para os participantes convidados.
20:30Lançamento do livro: Actas do V Ciclo Agostiniano - Açores.
21:00 – Tertúlia Sobre Agostinho da Silva.

28.MAR,08 – (SEXTA-FEIRA)
10:00 - Encontro “BIOESFERA”, com participação do Povo da Graciosa e convidados.
14:30 – Encontro “BIOESFERA” (continuação).
17:30 – Encerramento dos Trabalhos.
21:00 – Passagem do filme Agostinho da Silva ele próprio, gravação de António Escudeiro.

29.MAR.08 – (SÁBADO)
11:30 – Desfile das Irmandades do D.E.S..
12:00 – Missa.
13:30 – Função do Espírito Santo, com Sopas e a participação das Irmandades do Divino Espírito Santo.
16:00 – Leitura das Conclusões do Encontro “BIOSFERA” e discursos de Encerramento do VI Ciclo Agostiniano – Açores.
21:30 - Momento Musical com Manuel Freire.










DURANTE O CICLO:
Feira de Livros de Agostinho da Silva (recentemente editados).
Exposição Bibliográfica constituída pelas obras de Agostinho da Silva.
Exposição “Agostinho da Silva – Pensamento e Acção”.

Janeiro 2008
FAIAlentejo

MENSAGEM DA COMISSÁRIA DO VI CICLO AGOSTINIANO – AÇORES


A Graciosa, etimologicamente, a que se dá ou faz gratuitamente, a que deleita e a que atrai a atenção pela beleza e harmonia, delicadeza e graciosidade, sendo reserva da biosfera nas suas componentes litosférica, hidrosférica e atmosférica, é o lugar ideal para dar continuidade aos Ciclos Agostinianos cujos antecedentes tiveram realização nas Ilhas do Triângulo.
Agostinho da Silva deu-se por inteiro à vida, essa dádiva gratuita de que todos os seres vivos usufruem. É nossa missão servi-la, observando-a, preservando-a, conservando-a, reservando-a.
Assim como as ninfas, filhas de Cirene e irmãs do pastor Aristeu, protectoras de cem florestas e cem rios, saibamos fazer deste Encontro um momento de reflexão, um olhar atento e gracioso no presente para guardar e dar ao futuro esse grandioso bem.


Maria Eduarda Rosa

quinta-feira, abril 16, 2020

ESTE ACORDAR D’ARQUIPÉLAGO (Novembro, 1986)


Há um poema
A escrever,
Um dia,
De preferência
Por um profissional da poesia,
Sobre este tempo,
Este lento acordar
Do coletivo sentimento
D’inventar e completar
E transformar o pensamento;

Por ora,
Por aqui,
Fica apenas emprestado
Ao tempo e ao poeta a vir
O anotar
Deste mágico acordar das ilhas
Na cidade,
Como se dia a dia,
Hora a hora,
Se dissipasse
O vasto e sinistro mar
Do recíproco desconhecermo-nos
No público cantar dos pássaros.

Este acordar d’arquipélago,
Ilha a ilha,
Porto a porto,
Perto,
Cada vez mais perto,
Perto: de nos vermos,
              De nos olharmos,
               De nos ouvirmos,
               De nos sabermos,
               De nos acreditarmos,
               De nos rirmos de nós próprios,

Cada vez menos sós,

Dissipando-se o mar e a solidão
No mágico aprender os outros,
Ouvindo.


Maria de Sousa, in A HORA E A CIRCUNSTÂNCIA de Maria de Sousa e Agostinho da Silva, gradiva, 1988, pp. 122-123
.

sexta-feira, abril 03, 2020

2020 04 03 – CICLO AGOSTINIANO AÇORES

AGOSTINHO DA SILVA



Faz hoje 26 anos que morreu. Lembrando-o o homenageamos

CADENZA PRIMEIRA

Pairar acima da vida,
só vivendo-a;
pairar acima da morte,
só morrendo-a;
tudo junto em cada hora
de sempre por todo o sempre
sem nenhum tempo
e agora.”
(Agostinho da Silva)

in:”A hora e a circunstância”, de Maria de Sousa e Agostinho da Silva. Edição Gradiva. 1988. Pág. 13.



segunda-feira, maio 13, 2019

CICLOS AGOSTINIANOS AÇORES


Porto

««!»»

“A quem jamais me dá ordens
 faço o que não apeteço
mas sou contra se alguém manda
pois sirvo, não obedeço.”