Há um poema
A escrever,
Um dia,
De preferência
Por um profissional da poesia,
Sobre este tempo,
Este lento acordar
Do coletivo sentimento
D’inventar e completar
E transformar o pensamento;
Por ora,
Por aqui,
Fica apenas emprestado
Ao tempo e ao poeta a vir
O anotar
Deste mágico acordar das ilhas
Na cidade,
Como se dia a dia,
Hora a hora,
Se dissipasse
O vasto e sinistro mar
Do recíproco desconhecermo-nos
No público cantar dos pássaros.
Este acordar d’arquipélago,
Ilha a ilha,
Porto a porto,
Perto,
Cada vez mais perto,
Perto: de nos vermos,
De nos
olharmos,
De
nos ouvirmos,
De
nos sabermos,
De
nos acreditarmos,
De
nos rirmos de nós próprios,
Cada vez menos sós,
Dissipando-se o mar e a solidão
No mágico aprender os outros,
Maria de Sousa, in A HORA E A CIRCUNSTÂNCIA de
Maria de Sousa e Agostinho da Silva, gradiva, 1988, pp. 122-123
.
Sem comentários:
Enviar um comentário